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sem ana, blues - caio fernando abreu

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Quando Ana me deixou - essa frase ficou na minha cabeça, de dois jeitos - e depois que Ana me deixou. Sei que não é exatamente uma frase, só um começo de frase, mas foi o que ficou na minha cabeça. Eu pensava assim: quando Ana me deixou - e essa não-continuação era a única espécie de não continuação que vinha. Entre aquele quando e aquele depois, não havia nada mais na minha cabeça nem na minha vida além do espaço em branco deixado pela ausência de Ana, embora eu pudesse preenchê-lo - esse espaço branco sem Ana - de muitas formas, tantas quantas quisesse, com palavras ou ações. Ou não-palavras e não-ações, porque o silêncio e a imobilidade foram dois dos jeitos menos dolorosos que encontrei, naquele tempo, para ocupar meus dias, meu apartamento, minha cama, meus passeios, meus jantares, meus pensamentos, minhas trepadas e todas essas outras coisas que formam uma vida com ou sem alguém como Ana dentro dela. Quando Ana me deixou, eu fiquei muito tempo parado na sala do apartamento, cerca

brincar de amores possíveis

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não tenho mais idade para amores platônicos. era o que eu achava, mas amores platônicos já dizem tudo, são por si só autossuficientes. toda timidez do mundo pertence a mim, sem dúvidas. dizer um simples "oi" é mais difícil do que aprender a andar de bicicleta depois dos cinquenta. é claro que não falo de coisas impossíveis e sim de coisas difíceis. acho que devo ser a única pessoa da minha idade que não sabe andar de bicicleta ainda. não que eu me envergonhe disso, gosto de ser diferente nesse aspecto. não tenho mais idade para ficar suspirando pelos cantos. isso é até ridículo. não que eu me importe com o que os outros venham a pensar, sou eu que acho isso ridículo. que irônico! as pessoas desejam tanto um novo amor. acho que não tenho vontade ou disposição para me preocupar com outro alguém no momento. sentir ciúmes, decepção, brigar por qualquer coisa e depois fazer as pazes é muito cansativo. simplesmente acho que não tenho mais idade para me apaixonar pelo meu professor

dores não têm nomes

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eu queria transformar meus diários em um livro, poder contar todas as alegrias e tristezas que aconteceram comigo durante meus trinta e um anos de vida, mas sempre que começo a ler, meu estômago se contorce, se revira e eu sinto um nó na garganta, desejando nunca ter passado por aquilo… kc 29/06/2022

dona

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existia uma verdade sobre ela que eu ainda não sabia e que eu ainda não estava ciente de que necessitava saber... no entanto, embora existisse tal revelação, de que adiantaria tudo isso, se ela já era a dona da minha razão? kauana costa 21/09/2021

banco de reserva

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odeio te ligar e você não me atender... odeio mandar mensagem e você não me responder... odeio a sensação de estar às cegas. minha ansiedade me devora. me angustia não saber o que está acontecendo... me deixa zangada e neurótica. odeio quando você me larga no banco de reserva... - não era para você soltar a minha mão. kauana costa setembro de 2021

matrioska

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a cada matrioska retirada, uma camada de mim - que não sou eu - vai embora... uma versão de mim que não sou eu, mas que ainda faz parte do que eu sou, apenas para proteger a minha verdadeira eu - enquanto ela ainda existe - que está sozinha e assustada, com medo de se ferir e de sofrer outra vez... kauana costa 16/04/2019

do pesar

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como uma mão calejada de tanto manusear a enxada, eis meu coração calejado de se entregar ao amor. um dia, o peso da enxada faz a mão sucumbir ao esforço de manuseá-la. um dia, as decepções, as dores, as mentiras fazem o coração hesitar. e morre a espontaneidade. kauana costa 16/04/2019